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O Maciço Alcalino de Poços de Caldas

Complexo Alcalino de Poços de Caldas (CAPC) situa-se nos limites dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, ocupando no último a sua maior área, que é da ordem de 800 quilômetros quadrados. Abrange parte dos municípios de Poços de Caldas, Caldas, Andradas e Águas da Prata, e possui forma ligeiramente elítica, com o eixo maior, de 35 quilômetros, no sentido NE-SW e o menor, com 30 quilômetros, no sentido NW-SE (ELLERT, 1959). Geologicamente, está inserido no contexto do Maciço de Guaxupé (ALMEIDA et al., 1976), nos limites da Bacia Sedimentar do Paraná e dos contrafortes da Serra da Mantiqueira (ELLERT, 1959), na porção centro-oeste do lineamento magmático Cabo Frio (LOUREIRO & SANTOS, 1988).

É composto, predominantemente, por fonolitos e nefelina sienitos e, em menor quantidade, rochas vulcanoclásticas, destacando-se tufos e lapili-tufos fonolíticos, brechas e lavas aglomeráticas ankaratríticas e brechas fonolíticas intrusivas do conduto vulcânico. Granitoides e gnaisses do embasamento e os sienitos do Maciço Pedra Branca complementam o conjunto de litotipos encontrados na região (ALVES, 2003). Somam-se ainda a esses espectros diabásios e rochas sedimentares areníticas e arenito-carbonáticas de posição estratigráfica indefinida, atribuídas à Formação Botucatu (ELLERT, 1959).

As intrusões alcalinas estão associadas a fenômenos tectônicos responsáveis pela formação das serras do Mar e da Mantiqueira, a partir do arqueamento do escudo cristalino do sul do Brasil, com direções NW e NE, o que teria produzido tensões regionais em grande escala e possibilitado a ascensão do magma básico durante o Mesozóico, formando os maciços alcalinos (FREITAS, 1951).

Segundo Loureiro & Santos (1988), o complexo apresenta uma relação genética com o trend de falhas profundas do Arqueano, mascaradas no Ciclo Brasiliano (Neoproterozoico) e reativadas durante o Mesozoico. Frankael et al. (1985) mapeou dois sistemas principais de falhamentos no CAPC, o primeiro (N60W) relacionado à tectônica regional, sendo reativado, em parte, durante o soerguimento do maciço e o segundo (N40E) resultante da formação da caldeira. A existência destas estruturas circulares no interior da caldeira de Poços de Caldas está possivelmente associada à presença de cones vulcânicos (ALMEIDA FILHO & PARADELLA, 1977).

 

A evolução do Complexo de tipo caldeira vulcânica foi proposta por Ellert (1959), com base num  modelo de 6 estágios, descritos a seguir, e comprovado e simplificado por Schorscher & Shea (1992).

  1. Levantamentos, provavelmente escalonados por falhas, de blocos de embasamento cristalino após a sedimentação do arenito Botucatu;

  2. Atividade vulcânica, com formação de brechas, tufos e derrames de lavas.

  3. Subsidência da parte central;

  4. Ascenção do magma nefelínico por fendas radiais e circulares e formação de fonólitos, tinguaítos e por diferenciação foiaítos;

  5. Formação do dique anelar;

  6. Intrusão de chibinito, lujaurito e foiaíto.

 

Em resumo, Ellert (1959) interpretou o complexo como sendo expressões de um dique anelar, cuja estrutura foi formada pelo colapso total ou parcial do teto de uma cratera vulcânica, com reflexo na superfície, na forma de uma grande depressão circundada por diques anelares (GROHMANN et al., 2007), o qual apresenta duas formas de relevo em seu interior. A primeira, em fase adiantada de peneplanização e, a segunda, limitada pelas duas maiores falhas do maciço, demonstrando o rejuvenescimento do relevo. É nesta segunda forma de relevo, com topografia mais acidentada, que ocorrem as principais mineralizações de urânio, molibdênio, tório e terras raras (HOLMES et al., 1992 e FRAENKEL et al., 1985).

Ellert (1959) descreve processos pós-magmáticos, associados à evolução do complexo, sendo eles:

  1. Hidrotermais/autohidrotermais associados ao magmatismo akaratrítico;

  2. Pegmatíticos a hidrotermais nos nefelina sienitos e hidrotermais nos fonolitos, em geral;

  3. Hidrotermais específicos locais, potássicos e piritizantes, que deram origem às mineralizações de U-Th-ETR-Zr-F-Mo e pirita, em rochas nefelínicas e suas brechas;

  4. Fenitização das rochas granito-gnaissicas pré-cambrianas regionais.

 

A alteração hidrotermal afeta um quarto do complexo, e está associada às mineralizações de Zr, U e Mo do planalto, predominantemente localizadas na porção centro-sul, na chamada “estrutura circular centro-leste”. A coloração típica da rocha alterada e do solo, regionalmente denominados de “rocha potássica” é bege esbranquiçada a creme clara (GARDA, 1990). 

Fernanda Büchi 

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